Flores para Solidão

                Noite. Chuva. Frio. Ninguém ousa sair na rua. A chuva, pesada, dura mais que uma semana. Pra Pedro Pascoal seria o momento perfeito pra morrer. E foi. No banheiro. Uma queda. A cabeça bate na borda da banheira. Um corte. Sangue. O corpo boiando na banheira. Espuma. Sangue. Chuva. Lágrimas. Não, não há lágrimas. Pedro Pascoal não tinha ninguém...

                Dia. Um mendigo qualquer tenta ganhar seu dia. Sol forte. Fome. Ele se sente tonto. Carros. Ele está no meio da rua. Como fora parar lá? Sinal verde. Ele tenta se desviar dos carros. Parece que ninguém o vê. Ninguém o vê. Uma queda. Um pneu sobre sua cabeça. Sangue. Apito. Multidão, que logo se dispersa. Era só um mendigo, só um mendigo. Seu corpo é jogado na vala do esgoto. Ele não tinha ninguém...

                Noite. Maria das Graças recebe seu primeiro salário. Há dois meses chegou à capital, sozinha. Há um, conseguiu o emprego de garçonete. E não é muito longe da casa dela. Basta atravessar aquele beco. Mas o beco é tão escuro! Ela sempre se apressa quando está ali. Mas hoje ela está muito feliz pra se importar com isso. Em dois meses nada aconteceu. Não seria hoje. Escuro. Barulho. Medo. Ela acelera o passo. Corre. Uma queda. Mãos a agarram. Medo. Dor. Tapas. Sexo. Roubo. Grito. Ele saca um canivete. Ela nunca mais vai gritar. Sangue. E Maria das Graças não tinha ninguém.

                Dia ou noite. Tanto faz. Uma pessoa qualquer passeia por um blog qualquer, lendo. Lê sobre morte. Lê sobre solidão. De repente fecha o blog e começa a pensar. Levanta pra ir ao banheiro, ou comer algo. Não importa. Uma queda. A nuca bate violentamente na quina da mesa da sala. Sangue. Silêncio. Escuro. Você tem certeza de que tem alguém?


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